quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"Tem uma moedinha pro bixo, tio?"



Trote: esmola, cachaça e agressão: "são nossas crianças"

Por Diego Polachini

Passar numa universidade pública é verdadeiramente para poucos. Ainda mais se levarmos em conta esta educação básica em frangalhos que temos visto em nossos dias. Culpa de um sistema ultrapassado e equivocado e da inexistente política de incentivos à vida acadêmica.

Quem consegue entrar numa USP, UFSCar ou Unicamp sonha em se gabaritar para trabalhar nas maiores e melhores empresas do país. É justo e legítimo pensar assim. É por isso que jovens se esforçam em passar nos terríveis e concorridos vestibulares.

Fiz essa introdução para comentar um fato que me incomoda sobremaneira, e que foi comentado pelo colunista Beck no jornal Bom Dia de hoje.

Comemorar o ingresso na universidade é um direito e até dever de quem consegue passar pelo vestibular. É uma grande conquista. Mas fazer “pedágio” nas avenidas da cidade com o rosto pintado e o cabelo cheio de farinha para arrecadar dinheiro para a “cerveja” é ridículo.

Alguém certamente vai dizer: “Deixe-os brincar, são nossas crianças”. RIDÍCULO. “Nossas crianças” seguem de carro em carro pedindo “uma moedinha para o bixo” incentivados pelos “amigos” ou veteranos que querem explorar as gazetas amealhadas entre os motoristas trouxas que acham tudo lindo. Bah!

Sabemos que o sistema educacional atual é controverso. Alunos que passaram a vida toda em escolas públicas são obrigados a pagar faculdade, enquanto o “filho do papai” que sempre freqüentou os melhores colégios entra para uma “pública” – e mais eficiente.

Logo, o garotão que pede seu dinheiro no trânsito tem todas as condições de bancar uma festinha entre amigos para comemorar seu feito, sem passar pelo constrangimento de ficar “esmolando” nas avenidas da cidade e incomodando as pessoas.

Por que motoristas fecham o vidro para o garoto de rua enquanto para “as nossas crianças” que brincam de mendigos com tinta até nos cabelos eles abrem suas carteiras? É justo?

O menino de rua muitas vezes quer dinheiro para comer (às vezes é malandragem pura, diga-se de passagem), mas este “calouro do papai” vai usar suas “moedinhas” para encher a cara de cachaça e praticar, talvez, algumas outras aberrações sociais.

Viramos o rosto para as mazelas de quem vive nas ruas, mas achamos graça em quem tem um palácio para morar e passa por “mendigo” uma vez na vida para beber tudo que tem direito. Além disso, os trotes estão cada vez mais violentos e masoquistas.

Esses jovens de classe média, média alta e alta muitas vezes são aqueles que colocam fogo em quem dorme nas ruas, como noticiado por várias vezes na imprensa brasileira. É um tipo de gente que despreza seu semelhante por achar que tem dinheiro suficiente para comprar a dignidade dos outros.

Enquanto a educação do Brasil estiver com seus valores invertidos, veremos cenas bizarras, grotestas e descabidas das “nossas crianças” nas avenidas das cidades.

Opinião particular e intransferível. Goste você ou não!

Adonai Olam

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